Nos escritos preservados do artista Alfredo Andersen, conseguimos visualizar as dificuldades financeiras em que o artista se encontrava no início da carreira no Brasil, dependendo do auxílio de amigos e familiares. Como na carta ao cunhado Rudolf Peersen, em 1915, onde trata de questões que interferem diretamente em seu trabalho. Aborda temas político-econômicos e até de financiamento governamental aos setores da cultura e educação. São questões absolutamente atuais, tratadas frequentemente no trabalho de Alexandre Frangioni, que alude fortemente à temática política e social. Fazemos uma analogia das cartas de Andersen, seu principal meio de comunicação com seus conterrâneos (seu passado), com o trabalho Memórias Mistas de Frangioni, obras compostas por coletâneas de selos para cartas sobrepostos. Alexandre utiliza-se do conceito da memória por meio de selos, por serem parte da trajetória de todas as nações, o registro da história de personagens e datas comemorativas importantes.


Querido cunhado Rudolf.

Sabe por que faz tanto tempo que você não ouviu falar de mim? Só porque as coisas têm sido ruins para mim, muito ruins. […] Cerca de 3 anos atrás, o Estado assumiu um empréstimo externo de cerca de 33 milhões. O novo governo tinha grandes planos: escolas, etc, etc, um monte de projetos! […] Meu projeto foi enviado e aprovado e quando o congresso se reuniu o dinheiro seria concedido e tudo seria maravilhoso. Sabe o que aconteceu? Em menos de dois anos os 33 milhões desapareceram e quando o terceiro ano começou, o governo passou a economizar […]. Desde esse tempo eu tenho sido pago com promessas, promessas bonitas, promessas maravilhosas, mas nada mais do que promessas. Você pode entender que eu tenho boas razões para estar com raiva […]. Minha renda caiu de 600 para menos de 200 por mês. E mesmo essa pequena quantidade é difícil de obter: aqueles que têm dinheiro não pagam, e aqueles que não têm dinheiro não podem pagar! […] Atualmente estou trabalhando em um busto de Nilo Cairo, o fundador da nossa universidade. […] Você entende com isso que agora eu também sou um escultor! É o primeiro busto que eu modelo (a pobreza rompe todas as leis) e vou enviar-lhe uma foto dele mais tarde. […] Peço que dê 150 kroner aos meus pais, não é muito, mas infelizmente não posso enviar mais dessa vez.

ANDERSEN, Alfredo. Carta a Rudolf Peersen, 1915. Museu Casa Alfredo Andersen.
Tradução livre para o português, feita a partir da tradução em língua inglesa.

 

Você encontra as cartas de Alfredo Andersen expostas na vitrine na sala ao lado.