Esta é uma obra de arte postal que faz parte da série Made in China
Os postais Made in China, de Alexandre Frangioni, fazem parte de um Projeto que contém:
- 288 postais únicos, com combinações distintas entre postal/selo.
- 4 postais com tiragem limitada de 24 peças cada, totalizando 96 postais
Postais únicos
São 24 modelos de cartões postais e 12 modelos de selos especiais, totalizando 288 combinações únicas.
- Os selos foram personalizados e produzidos nos Correios exclusivamente para este projeto.
- No verso de cada cartão postal com selo tem:
- descrição da imagem da frente do postal;
- a numeração no formato AF[Número do postal]/S[Número do selo] (como o da foto: AF01/S01).
Os postais são carimbados e entregues pelos Correios, exceto para os endereços fora do país onde o selo não se aplica.
Os 24 tipos de cartões postais
e respectivos códigos
Os 12 tipos de selos
e respectivos códigos
Postais limitados
São 4 modelos de cartões postais com tiragem de 24 unidades cada.
No verso de cada cartão postal com selo tem:
- descrição da imagem da frente do postal;
- a numeração no formato AF[Número do postal]/S[Número do selo]/T(número tiragem).
Os postais são carimbados e entregues pelos Correios, exceto para os endereços fora do país onde o selo não se aplica.
Texto Curatorial
Rejane Cintrão
Texto produzido para a exposição Cópia Fiel, na Galeria Babel (São Paulo, SP, 2023), que trata do Projeto Made in China.
A China – uma civilização milenar com mais de 4.000 anos de história e com a maior população terrestre-, sempre foi um país muito distante do Brasil. Este fato mudou radicalmente com o impacto da globalização provocado pela economia mundial, um embuste para os países mais pobres. Para a China foi, sem dúvida, um “negócio da China”. A China é responsável pela produção de incontáveis produtos consumidos por nós, do ocidente. Por outro lado, nós, do Brasil, exportamos uma quantidade imensa de produtos agropecuários para alimentar a população com mais de 1 bilhão e quatrocentos milhões de chineses. Somos todos reféns desta situação, ocidente e oriente.
Alexandre Frangioni vem desenvolvendo, desde 2018, uma ampla pesquisa que propõe uma reflexão sobre as implicações da globalização na sociedade atual. O que, afinal, a globalização trouxe de positivo para o mundo? A pasteurização das diferentes e ricas culturas de diversas regiões mundiais? O consumo exacerbado de produtos que, na maioria das vezes, não precisamos? Ou o crescimento nas diferenças sociais?
A série “Made in China” foi realizada nestes últimos anos como uma crítica bem-humorada à sociedade atual, moldada pelo consumo que põe em xeque a preservação da natureza, das diferentes culturas e dos seres que habitam nosso planeta. A repetição da frase Made in China produzida com obsessão por Frangioni, é a mesma que encontramos em milhares de produtos que consumimos, muitos deles “cópias originais” de marcas de roupas e acessórios inacessíveis para a maioria da população mundial, produzidos em larga escala por pessoas que vivem em extrema pobreza na China e na Índia.
“A atitude de Frangioni diante de ideias que podem ser difíceis de serem conceituadas pode resumir-se na seguinte frase: ele transforma ideias complexas em algo tão eficiente e simples como uma imagem”, escreve o crítico Christian Viveros-Fauné no livro One Art History, publicado em 2021 reunindo diversos trabalhos do artista. Ou seja, ele toma slogans de marketing que vemos todos os dias, mesmo que estejam implícitos das mais diversas maneiras, e dá um outro contexto para eles.
O ser humano utiliza, há séculos, a repetição de símbolos, códigos e ícones como forma de impor culturas, religiões ou hábitos. Na arte religiosa da idade medieval e renascentista, a repetição de fatos ocorridos na religião cristã é utilizada para divulgar a Igreja, haja vista que o crucifixo é um dos símbolos que mais se repete na história e em nosso cotidiano ao longo de mais de 2 mil anos. Não existe uma marca, objeto ou logotipo que tenha superado o uso deste símbolo até hoje.
Já a arte contemporânea, desde o artista francês Marcel Duchamp (1887-1968), tem como objetivo justamente trazer um outro contexto ou lugar para esses símbolos, ícones e objetos. Este fato é notável nas obras apresentadas nesta mostra, assim como as relações antagônicas entre questões também contemporâneas como qualidade e custo, sustentabilidade e produtividade, pobreza e riqueza, autenticidade e cópia.
A produção de Frangioni está em sintonia com os conceitos artísticos de Duchamp, mas, também, tangenciam as reflexões econômicas, políticas e sociais abordadas na produção de Cildo Meireles (Rio de Janeiro, 1948), por exemplo, ou a obra de ácido humor de Nelson Leirner (São Paulo, 1932 – Rio de Janeiro, 2020), fundamentais para a compreensão da história contemporânea da arte brasileira. Como, também, vai de encontro às propostas curatoriais da XV Documenta de Kassel (2022), cujos curadores integrantes do coletivo Ruangrupa, de Jakarta, propuseram ações artísticas baseadas na vivência do Lumbung (celeiro de arroz), onde as comunidades dividem igualitariamente seu alimento. A arte também deve nos “alimentar” de forma igualitária e por meio de ações em que todos participam e onde a arte deixa de ter um valor monetário e passa a ter um valor social. Desta forma, colocam em xeque todo o sistema econômico adotado no mundo que torna os ricos cada vez mais ricos e o pobres cada vez mais pobres.
Os trabalhos de Frangioni trazem uma proposta similar àquela apresentada pelos integrantes do Ruangrupa, já que criticam o sistema econômico e social no qual vivemos. Entretanto, Frangioni o faz de maneira inversa, uma vez que cada trabalho é realizado manualmente, deixando a “marca do artista”. Desde os engradados de madeira que são, minuciosamente, redesenhados, copiados e refeitos à frase Made in China, escrita à maneira da Coca-Cola e impressa em etiquetas que são, “copias fiéis” àquelas coladas nas garrafas do refrigerante, os trabalhos são realizados artesanalmente, quer por meio de colagem, pintura, desenho, bordado ou mesmo impressão, técnicas milenares da arte. Neste sentido, seu trabalho se afasta do “objeto encontrado” tão presente na arte contemporânea mundial.
Assim, este curioso artista, formado em engenharia química, engana o nosso olhar. Afinal, estes trabalhos são cópias ou originais? Ou seriam cópias originais?
Rejane Cintrão
Março 2023